A cirurgia robótica trouxe grandes benefícios para procedimentos realizados no sistema digestivo e em outras partes do corpo. Ela permitiu avanços significativos até mesmo sobre a cirurgia laparoscópica, garantindo cada vez mais segurança aos pacientes e tranquilidade aos cirurgiões.

Neste artigo, vamos abordar diversos aspectos sobre a cirurgia com robôs, incluindo o seu funcionamento, os casos em que é indicada e as vantagens em relação ao procedimento da laparoscopia. Acompanhe a seguir.

O que é cirurgia robótica?

A cirurgia robótica é aquela realizada por um robô com braços articulados controlados pelo cirurgião, que não precisa ficar ao lado do leito. Nesse tipo de intervenção, há sempre um profissional capacitado para coordenar os movimentos, ou seja, a máquina nunca age sozinha, mesmo que tenha uma inteligência artificial extremamente avançada.

Na cirurgia usando robôs, ainda que os equipamentos sofram variações de fabricante para fabricante, existem três componentes fundamentais:

● Um console onde o médico fica sentado e tem acesso a dois joysticks, que são os aparelhos de controle responsáveis pelos comandos designados aos braços e às pinças do robô. A estrutura ainda conta com pedais que comandam a troca de braços, o movimento da câmera e as ações de corte e cauterização que envolvem energia. O profissional também possui acesso a um painel de imagens em 3D aumentadas 10 vezes em comparação ao tamanho real, para melhor visualização do local.

● Um carrinho que fica próximo à mesa cirúrgica. É onde ficam os braços articulados em que são acoplados os instrumentos e a câmera. Eles devem reproduzir com exatidão as ordens do cirurgião.

● E a terceira peça é o corpo do robô. Uma torre com um grande monitor multifuncional, composta por uma fonte geradora de imagem para a máquina, um gerador de energia e o próprio software.

Quando surgiu esse tipo de cirurgia?

A cirurgia robótica foi introduzida na medicina nos anos 2000, começando nos Estados Unidos. No Brasil, a invenção tecnológica chegou em 2008 e, atualmente, já contamos com cerca de 50 robôs desse tipo no País.

O número de cirurgias aplicando essa técnica cresceu rapidamente. A título de exemplo, em 2019, foram realizadas mais de 1 milhão de cirurgias robóticas no mundo, sendo que aproximadamente 20 mil delas ocorreram no Brasil.

Esse tipo de tecnologia já beneficiou diversas áreas, como a urologia e as cirurgias do aparelho digestivo, colorretais e do tórax, entre outras.

Cirurgia bariátrica com o uso de robôs

A cirurgia bariátrica é uma das possibilidades para trazer uma melhor qualidade de vida aos pacientes obesos que já não conseguem emagrecer sozinhos ou por intermédio de tratamento clínico.

A obesidade tornou-se uma epidemia mundial, sendo caracterizada por um Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 kg/m². Os pacientes com essa enfermidade são indicados para a intervenção cirúrgica, quando o IMC ultrapassa 35 kg/m2, associado a outros problemas de saúde, como hipertensão, diabetes, doenças nas articulações, depressão e apneia do sono.

Contudo, até mesmo os obesos de grau 1, com IMC entre 30 e 35, podem ser submetidos à bariátrica, se apresentarem a síndrome metabólica e o diabetes mellitus tipo 2, que é de difícil controle clínico.

A cirurgia bariátrica é um procedimento complexo, já que a condição de saúde do paciente a torna mais arriscada. Isso representa maiores chances de complicações durante o procedimento e no pós-operatório, principalmente, quando pensamos em métodos antigos, como a cirurgia aberta.

Entretanto, com a evolução dos processos cirúrgicos, a bariátrica está se tornando cada vez menos invasiva e mais segura. Primeiro, surgiu o procedimento por videolaparoscopia, que foi considerado um grande avanço por permitir pequenas incisões. Em seguida, veio a cirurgia robótica, que segue os mesmos princípios, mas amplia o poder de precisão.

Também é importante destacar que esse mecanismo mais moderno pode ser usado para todas as técnicas de bariátrica, como bypass gástrico,  sleeve e SADI-S. Os resultados são animadores e apontam a cirurgia com robôs como o futuro para esse tipo de procedimento, principalmente em reoperações, nos casos de reganho de peso, onde há necessidade de cirurgia revisional.

Vantagens da cirurgia robótica para os pacientes bariátricos

Logo, tornou-se nítido que a cirurgia robótica é extremamente eficaz em pacientes obesos e superobesos.

Além dos benefícios gerais da robótica, há algumas vantagens específicas para pacientes bariátricos, tais como:

● Os braços do robô são capazes de alcançar regiões e tecidos que as pinças laparoscópicas têm dificuldades de acesso, por meio de uma parede abdominal extremamente espessa.

● Menor probabilidade de lesões em órgãos durante bariátricas revisionais.

● Movimentos e suturas precisas mesmo em locais de difícil acesso.

● Melhora no tempo de recuperação. Alguns pacientes já conseguem se sentar e levantar, assim que chegam ao quarto.

Esse tipo de cirurgia é seguro?

Muitas pessoas podem ficar desconfiadas diante do fato de que o cirurgião não estará ao lado do paciente na mesa de cirurgia. No entanto, como já mencionamos, o robô está programado para apenas repetir os movimentos do especialista, ou seja, não foi projetado para executar as ações sozinho.

Além disso, esses equipamentos são extremamente modernos e contam com diversas camadas de proteção. Por exemplo, os braços mecânicos são capazes de identificar quando um movimento foi feito de forma involuntária e, por isso, não o reproduzem.

Nessa mesma linha, caso o cirurgião afaste o rosto da tela em que visualiza a cirurgia em 3D, o robô irá travar todos os mecanismos, evitando, dessa maneira, que um movimento errado possa trazer complicações para a cirurgia.

Mas não é somente um equipamento de alta tecnologia que ajuda a garantir a segurança durante a cirurgia bariátrica robótica. Uma equipe médica capacitada também é essencial.

Embora o cirurgião não fique ao lado da mesa cirúrgica, há outros profissionais envolvidos no processo. Eles são responsáveis por monitorar o paciente e cada aparelho médico. Além disso, as cirurgias robóticas seguem protocolos rígidos de checagem dos instrumentos a cada 1 hora, com a finalidade de assegurar que estão funcionando corretamente.

Esses são alguns dos pontos que nos levam a entender que esse tipo de procedimento é extremamente seguro.

Outros tipos de cirurgia robótica no aparelho digestivo

Apesar do enorme sucesso em bariátricas, a cirurgia robótica também é amplamente empregada em outros procedimentos no sistema digestivo. Adiante, destacamos os mais importantes.

Hérnia de hiato

A hérnia de hiato é caracterizada por uma alteração na anatomia da região onde o esôfago se liga ao estômago. Essa condição facilita o retorno de conteúdo estomacal, sendo uma das principais causas do refluxo gastroesofágico.

Para acabar com os incômodos causados pelo problema, a melhor saída costuma ser uma cirurgia em que os tecidos serão reposicionados. O procedimento pode ser feito com o auxílio de robôs, o que ajuda a não provocar danos aos tecidos saudáveis e faz com que o paciente se recupere rapidamente.

Hepatectomia

A hepatectomia consiste em um procedimento para tratar doenças do fígado. É indicado quando há tumores primários, metástases hepáticas e nódulos, além de outras enfermidades que podem atingir esse órgão tão importante.

Essa cirurgia era comumente executada com a técnica aberta, na qual o cirurgião fazia uma incisão no abdômen, com o objetivo de acessar o fígado diretamente. Um método que envolvia muitos riscos e que atrapalhava a recuperação.

Ao utilizar robôs nesse tipo de operação, é possível diminuir os traumas e até a necessidade de transfusão de sangue.

Duodenopancreatectomia por meio da cirurgia robótica

A cirurgia robótica significa uma grande evolução no tratamento de problemas no pâncreas. Antes, em caso de tumores, era geralmente recomendada a retirada total do órgão.

Hoje, de forma muito menos invasiva, é viável realizar uma técnica chamada de duodenopancreatectomia, em que se retira a cabeça do pâncreas e uma pequena parte do intestino.

Cólon

Em cirurgias do cólon, é recorrente usar a técnica laparoscópica em vários casos, pois corresponde a um procedimento mais econômico e com ótimos resultados.

Todavia, também é possível utilizar a cirurgia robótica dependendo da localização do problema, da disponibilidade dos equipamentos e da avaliação médica. O método é eficaz para a retirada de tumores em diferentes partes do cólon.

Reto

Em casos de doenças no reto, como câncer, o tratamento é feito com a retirada do mesorreto. O procedimento pode ser efetuado com a técnica robótica, que permite a remoção dessa estrutura de forma mais simples, já que o acesso à região é facilitado.

Vale destacar que as cirurgias com o uso de robôs no aparelho digestivo são bastante empregadas para tratar tumores malignos. A intervenção pode ser feita em diversos órgãos. A indicação para esse tipo de doença acontece pela complexidade do quadro.

Então, ao usar robôs, o cirurgião consegue uma maior precisão, melhor visibilidade e fica mais confortável por ter à sua disposição tecnologia de última geração.

Quais as diferenças entre a cirurgia robótica e a laparoscópica?

Os termos cirurgia robótica e laparoscopia geram alguma confusão, pois referem-se a procedimentos que carregam diversas semelhanças entre si.

A cirurgia laparoscópica é uma técnica minimamente invasiva na qual o cirurgião faz pequenas incisões no abdômen do paciente, geralmente, de 0,5 a 1 centímetro. Por meio desses “portais”, o especialista introduz um instrumento tubular conhecido como trocarte. Depois, outros dispositivos médicos são passados por meio do trocarte. Também é inserida uma câmera especial que dá ao profissional a visão do local e possibilita que ele faça o procedimento com segurança, observando o interior da cavidade em uma tela de alta definição.

A cirurgia que emprega o uso de robô é parecida. Mas, imediatamente, é possível notar a primeira e grande diferença: o cirurgião não manipula os equipamentos diretamente. Ao invés disso, ele fica sentado diante de um console, fazendo os movimentos em um joystick, que são reproduzidos pelos braços do robô.

Além disso, nesse segundo método, o cirurgião tem à sua disposição uma câmera em 3D e com a imagem aumentada, assegurando uma visão ainda mais precisa da cavidade abdominal.

De forma geral, ambos os procedimentos possuem vantagens similares em comparação à cirurgia convencional:

● Incisões relativamente pequenas.

● Menor perda de sangue.

● Baixo risco de desenvolvimento de infecções ou qualquer outro problema no pós-operatório.

● Recuperação rápida, visto que a cicatrização é bem mais fácil. Além do mais, o paciente sente menos dor.

● O procedimento é realizado em um intervalo de tempo inferior.

● Menor chance de complicações no decorrer da cirurgia.

Vantagens da cirurgia robótica em relação a laparoscópica

Apesar de semelhantes, a cirurgia robótica trouxe diversos benefícios sobressalentes em relação ao método laparoscópico, estabelecendo-se definitivamente como uma evolução da medicina nesse aspecto.

Dentre os principais ganhos conquistados, podemos citar:

● Visão mais ampla e detalhada do local, o que coopera para maior precisão do procedimento.

● Alcance de regiões mais difíceis.

● Os braços robóticos têm maior amplitude de movimentos do que os equipamentos usados na laparoscopia.

● Apesar de reproduzir os comandos do cirurgião de forma pontual, o sistema dos braços robóticos foi desenvolvido para ignorar os tremores e manter a movimentação sempre estável, o que contribui para a total precisão do procedimento e reduz os riscos de qualquer erro.

● Maior ergonomia para o cirurgião. Enquanto que na laparoscopia o profissional precisa estar posicionado ao lado do paciente, na cirurgia usando robô ele pode se sentar confortavelmente. Isso ajuda a manter a concentração e minimiza o cansaço em procedimentos mais longos.

Quais as dificuldades da cirurgia robótica?

Seja para procedimentos no sistema digestivo ou em outras partes do corpo, a cirurgia robótica ainda esbarra em algumas questões que a impedem de ganhar mais força.

O primeiro empecilho é o elevado custo dos equipamentos. Estamos falando da mais alta tecnologia, o que faz um único robô custar alguns milhões de reais, tornando-o inviável para diversas clínicas e hospitais.

Outro ponto importante diz respeito ao treinamento dos profissionais, pois, para atuar nesse tipo de cirurgia, é preciso ter conhecimentos específicos e muita habilidade. Por isso, é crucial oferecer treinamento de qualidade aos especialistas da área.

Muitas clínicas enviam os seus profissionais aos cursos disponíveis no exterior, para que possam adquirir a capacidade técnica exigida na condução desses equipamentos.

Qual será o futuro das cirurgias com o emprego de robôs?

A tecnologia não para de nos surpreender, sendo assim, podemos esperar outros grandes avanços relacionados aos procedimentos cirúrgicos.

A expectativa para o futuro é que uma cirurgia robótica possa ser concebida de modo remoto, sem que o cirurgião esteja no mesmo local que o paciente. Obviamente, isso requer um aparato tecnológico ainda mais potente, visando evitar qualquer problema.

A nova rede 5G pode ser um dos progressos que vai tornar isso uma realidade, já que garante uma conexão mais ágil e confiável, contribuindo para um mundo em que tudo funcione de forma mais integrada.

Os robôs ainda não são capazes de substituir a presença humana em uma cirurgia. Contudo, no futuro, eles serão cada vez mais precisos e seguros, agregando maior qualidade aos procedimentos.